terça-feira, 11 de novembro de 2014


Agora escrevo aqui: http://non-retour.blogspot.com.br/

sábado, 30 de agosto de 2014

Queixa

me conte da sua mágoa
depois de aberta e
exposta a grande ferida

me mostre como seus olhos
brilham do lado de dentro
e por fora,
como se lança a (grande) vida

domingo, 17 de agosto de 2014

pela primeira vez me surpreendi pela destreza do tempo e me dei conta de que havia passado, sim, alguns anos, desde a última vez que me dei conta de que o tempo, talvez, não estivesse a favor de ninguém, muito menos de mim. alcancei algum topo disforme e que balança para lá e para cá nessas alturas em que caminho. alcancei o topo de uma árvore não muito alta e caí, repentinamente. caí e já não sei se a alcanço novamente, ou se preciso, ou se me importo ou se quero alcançá-la. talvez houvesse mesmo algum momento na vida que fosse preciso parar e se alinhar a qualquer linha, uma linha imperfeita, à margem, solta, viva. extremamente bela e viva. um dia desejei percorrer qualquer linha à margem, solta e pulsante. me lembro desse dia como se fosse hoje. fazia sol, estava a caminhar nas ruas da cidade que me provoca diariamente e me arrastei num pensamento vago e difuso. perdi horas nele e só parei quando o sol aqueceu tanto as minhas têmporas que foi quase impossível continuar a andar. mas nesse ínterim, entre o cansaço e o calor, um suor plasmático, etéreo e salgado banhou-me pouco a pouco. um suor meu, da minha pele, das minhas camadas sobrepostas de pele, epiderme, sangue e linfas, que me fazem permanecer com o mesmo contorno físico diariamente e ser reconhecida como a mesma mulher de sempre, aquela que confunde amor com equidade e se perde num mar avulso de imensa solidão. o suor inteiro no rosto inteiro de uma suposta percepção. percebi naquele dia, se é que me dei conta no dia ou foram o passar dos anos que a moldaram assim para mim, que faltava alguma coisa. eu estava no caminho certo, com as pessoas certas, com uma ideia redondamente redonda e certa. mas faltava algo. algum sinal, um equívoco, uma suposta lamentação noturna, uma tentação de um corpo, um caminho mais estreito e confuso. faltava alguma coisa. talvez se uma lembrança se abrisse toda como uma toalha de retalhos que é posta sobre a mesa num almoço de domingo fazendo com que todos, inevitavelmente todos reparem em seus imensos bordados, coloridos e fragmentados e perguntem quanto tempo que levou para ela está ali, cobrindo os nossos olhos. percorri pensamentos que atravessaram dores e canções de estranha saudade, pedindo conselhos, apontamentos ou mesmo uma modesta divagação. sem sucesso. no final do dia, com o rosto morno do cansaço, sentei numa escadaria que ficava ao pé de uma ladeira, e que se você ousasse subir seus mais de oitenta degraus, sem parar, teria tempo de sobra para descansar sob o véu de algum deus plainando no absoluto. mas não estava ali para isso. não havia chegado a conclusão nenhuma. sobre nada. do tempo, do amor, da coisas dilacerantes que nos desviam. absolutamente nada. haveria eu de ser escolhida para ter certeza sobre alguma coisa? haveria eu de ser escolhida, mesmo que pelo meu próprio pensamento, para ser aquela que sempre quisera ser? não poderia mais pensar, não naquele dia. uma gigante onda de poeira, ventos e postes se alumiando me faziam desejar voltar para casa, o quanto antes. levantei, arrumei o cabelo e fiz o caminho inverso. pouco antes de chegar em casa, avistei um antigo amigo que passava, que também passava. ele me viu e acenou, como se fosse o momento certo para sorrir. eu retribuí e acenei de volta, andando mais alguns metros até chegar em casa. ao entrar, corri para a janela, pensando ainda se ele já teria dobrado a esquina. estava parado, com os mesmos trejeitos de sempre, olhando em minha direção. acenei novamente. ele sorriu, se virou e continuou andando. fechei a janela. uma brisa fria e fresca já subia, embaçando o vidro pela parte de dentro. naquele dia eu dormi sozinha, sentindo um cansaço imenso pesando sobre meu corpo. a única certeza que tive, ao acordar, foi que, talvez, naquele cair de tarde, meus olhos estivessem tão úmidos quanto o dele e, que, mesmo assim, fomos capazes de partir. 





quarta-feira, 6 de agosto de 2014

fugidia


av ida ées
cor re ga
d    i    a

alis as eu
r os ton o
res to dom
eu  fug  i
d    i    a




domingo, 6 de julho de 2014




o vento balança
o cabelo trançado é levado
ao outro lado do horizonte




sábado, 21 de junho de 2014

as flores de ontem que acalmaram a primavera
não balançam como antes
seu orvalho, suas caldas alongadas se erguendo
num deslize caíam no afago dos seus dedos
mas agora não mais balançam
perfazem, pétala por pétala
esse chão vermelho sem destinos
um caminho de solidão




terça-feira, 17 de junho de 2014

mais sul que o mar

eu sou triste
como qualquer pessoa
que nasce ao sul de qualquer sul
mais sul que o mar

eu estou triste
como qualquer alma desaldeada
que acordou um dia
e viu seus olhos
presos num horizonte qualquer

já nasci assim
pés no chão
olhos ao mar

e se hoje pareço contente
é apenas porque o vento se avançou um pouco
e lançou parte dos meus cabelos
ao norte de mim